Parasha de Ytro
- Rosh Yehudah Ben Israel
- 17 de fev. de 2017
- 4 min de leitura
corrigido e adapdado a visão netzari
Moré Inacio Medeiros

Poucas leituras semanais da Torá recebem o nome de uma pessoa; portanto, sempre que esta associação é feita, ela demanda especial atenção. E se isto for verdade em relação às outras leituras da Torá, certamente se aplica à Parashá Yitró, a história da entrega da Torá. Chamar a porção de Yitró indica uma conexão entre ele e os acontecimentos.
Quem foi Yitró1? A Torá o descreve como o kohen de Midian. os escritos judaicos oferecem duas definições para a palavra kohen2:
a) “Governante”. Yitró governava a terra de Midian.
b) ”Sacerdote”. Ele liderava os midianitas em sua devoção. De fato, os escritos judaicos relatam3 que Yitró tinha reconhecido todas as falsas divindades no mundo.
Identificando as Divindades, Reconhecendo El
Para resolver esta questão, é necessário entender a origem da idolatria. O Rambam escreve
:
Durante a época de Enosh, a humanidade cometeu um grande erro... Eles disseram que o Eterno criou as estrelas e esferas para, com elas, controlar o mundo. Ele as colocou no alto e as tratou com honra... Consequentemente, é adequado [ao homem] louvar ou honrar [estas entidades] e tratá-las com honra.
Assim, a adoração de falsas divindades tem suas raízes em um mal-entendido – a de que Elohin influencia este mundo por meio de intermediários.
Nossos melhores comentarios falam7: “Não há nenhuma folha de grama neste plano [material] que não tenha uma força espiritual compelindo-a a crescer”. Adoradores de ídolos, entretanto, atribuem autoridade independente a esses intermediários, achando que eles têm controle sobre a influência que espalham. Na verdade, esses “deuses” são meramente “um machado na mão de um lenhador”8, sem nenhuma importância ou vontade própria e, portanto, é errado e proibido adorá-los9.
Ao dizer que Yitró tinha reconhecido todas as falsas divindades no mundo, nossos escritores indicam que ele tinha consciência de todos os diferentes meios pelos quais o Eterno canaliza a energia para o mundo. Apesar de seu conhecimento desses poderes espirituais, ele rejeitou sua idolatria declarando10: “Abençoado seja Adonay... Agora eu sei que o Eterno é maior que todas as divindades”.
O Microcosmo Encorajando o Macrocosmo
O reconhecimento de Elohim por Yitró não foi meramente uma questão pessoal. Suas palavras de louvor produziram “a revelação de o Eterno em Sua Glória nos mundos superiores e inferiores. Depois disso, Ele entregou a Torá, em perfeita [confirmação de] Seu domínio sobre toda a existência” 11.
O reconhecimento individual do Eterno por Yitró expressou o propósito da entrega da Torá. Isto preparou o macrocosmo, o mundo em geral, para uma revelação como esta.
A Torá foi dada somente para criar paz dentro do mundo”. Entretanto, a paz não é o objetivo da existência da Torá; a Torá existia antes da criação do mundo13. Ela é a sabedoria de Eterno14, unida com Ele15.
Portanto, assim como o Eterno transcende o conceito de propósito, também assim faz a Torá. os Mestres entretanto, focaliza não sobre o objetivo da própria Torá, mas sobre a entrega da Torá – porque a Torá foi concedida aos mortais. Ele explica que a Torá foi dada não somente para espalhar a Luz Divina, mas para cultivar a paz.
Quando os Pares se Encontram
A paz se refere à harmonia entre opostos. Em um certo sentido, ela se refere à solução da divisão entre o físico e o espiritual, o movimento adiante que torna possível um mundo no qual a presença de D’us não está visivelmente evidente para reconhecer e ser permeado pela verdade de Sua Existência.
Sobre o versículo16 “Os céus são os céus de El, mas a terra Ele deu aos filhos do homem”, os metres ensinam17 que, originalmente, havia um decreto Divino separando o físico do espiritual, isto é, a natureza da existência material nos afastava da verdadeira apreciação da realidade espiritual18. No momento da entrega da Torá, entretando Hashem “anulou esse decreto” e permitiu que a união fosse estabelecida entre as duas.
Além disso, a verdadeira paz envolve mais do que a mera negação da oposição. A intenção é que as forças que existiam previamente ao acaso devem reconhecer algo em comum e se unirem em atividades positivas. Da mesma forma, a paz que a Torá estimula não envolve meramente uma revelação da Divindade tão grande que o mundo material seja forçado a reconhecê-la. Em vez disso, a intenção da Torá é produzir uma consciência do Eterno dentro do contexto do próprio mundo.
Existe Divindade em todo elemento da existência. A todo o momento, a Criação está sendo renovada; se a energia criativa de El faltasse, o mundo voltaria ao nada absoluto19. A Torá nos permite apreciar essa Divindade interior e nos capacita a viver em harmonia com ela.
Em um sentido pessoal, o reconhecimento por Yitró da supremacia do Eterno cumpriu esse objetivo. De seu envolvimento com “todas as falsas divindades do mundo”, ele chegou a um profundo reconhecimento da soberania de Eloohin20. A transformação de Yitró tornou possível a entrega da Torá que, por sua vez, transforma o mundo.
notas
1.
Shemot 18:1.
2.
Ver o Mechilta sobre este versículo.
3.
Mechilta sobre Shemot 18:11; Zohar, Vol. II, p. 69a; Rashi, Shemot 18:9.
4.
Rashi, Shemot 18:5.
5.
Ver Bava Metzia 58:13, citado em Mishneh Torah, Hilchos Mechirah 14:13.
6.
Mishneh Torah, Hilchos Avodas Kochavim 1:1.
7.
Bereishis Rabbah 10:6, Zohar, Vol. I, p. 251a.
8.
Cf. Yeshayahu 10:15. Ver o maamar VeYadaata 565 7 onde este conceito é explicado detalhadamente.
9.
Ver o 5º dos Treze Princípios da Fé do Rambam (Comentário sobre a Mishnah, Introdução ao Décimos Capítulo do Sanhedrin).
10.
Shemot 18:10-11.
11.
Zohar, Vol. II, p. 67b.
12.
Rambam, Mishneh Torah, a conclusão de Hilchos Chanukah. A fonte de Rambam é uma questão de discussão. O Tzemach Tzedek (Or HaTorah, Mishlei, p. 553) cita Gittin 59b. Ver Likkutei Sichos, Vol. VIII, p. 349ff.
13.
Midrash Tehillim 90:4, Bereishis Rabbah 88:2.
14.
Tanya, cap. 3.
15.
Zohar, Vol. I, p. 24a.
16.
Salmos 115:16.
17.
Shmos Rabbah 12:3. Ver o ensaio intitulado “O Quê Aconteceu Com O Sinai” (Timeless Patterns in Time, Vol. II, p. 91ff, Kehot, 1994) que explica este conceito.
18.
De fato, a palavra hebraica para “mundo” (Likkutei Torah, Bamidbar 37d) ????, compartilha a mesma raiz que a palavra ????, significando “ocultação”.
19.
Tanya, Shaar HaYichud VehaEmunah, cap. 1.
20.
20. Yitró reconheceu, de boa vontade, a presença de D’us e se esforçou para modificar sua vida para se adaptar com sua apreciação. Outros povos também ficaram temerosos pelos milagres do Mar Vermelho e reconheceram o poder de D’us, como está escrito (Shemot 15:14-16): “Povos ouviram e tremeram... Os [habitantes de] Canaã fundiram-se. Medo e apreensão caíram sobre eles”. Diferentemente de Yitró, entretanto, eles não refletiram esta apreciação de D’us em sua conduta.
21.
Zohar, Vol. III, p. 47b.
22.
Ecclesiastes 2:17.
23.
Cap. 36.
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